quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Eu morri


Está calmo e silencioso,
Os olhos da solidão me fitam como punhais
Estou perdido
Caminho no escuro pois pra mim ele não possui mistério
Não há novidades para mim,
À minha volta, a vastidão do nada
A absolutividade do todo
O grande útero
Onde anjos e demônios não existem
Onde até mesmo os Deuses em sua grandeza não me reconhecem.
Abaixo a terra úmida e fértil,
Acima o céu escuro e sem luz, não existe luz
Cadê você que não me acompanhas, oh Luz que tudo permeia?
Procuro-te, onde estarás?
As estrelas se foram, elas nem chegaram a existir,
Estou só e sem guias,
Meus pés me guiam e minha mente me acompanha,
Para um lugar onde finalmente eu me encontre
Um lugar desconhecido,
Onde eu me olhe face a face, olho no olho
E possa finalmente enxergar quem eu sou,
Nú, puro, despido de todas as cascas, máscaras e mantos
Inteiro como fui feito
Não mais perdido e sim achado,
Não mais impuro, e sim limpo,
Não mais fracionado, e sim completo
Completo como fui feito pelos Deuses
E não em pedaços como fui deixado por mim mesmo no decorrer da caminhada
A minha frente ao longe somente uma chama,
A chama pura que a tudo consome,
E que tudo regenera,
A Chama da mais pura Vestal,
Ela arde acima do chão, sugando tudo que próximo à ela chegue
É inebriante, sensual, impecável e atrativa
Somente uma dama parece não ser perturbada por ela
A Guardiã da Chama, a Virgem.
Ela me convida a me aproximar,
Gesticula me mostrando a Luz
Me faz olhar para ela, olhar fatal que faz perder os sentidos
Me cega e me faz enxergar tudo.
Tudo que fui e fiz,
Quem fiz sorrir e quem fiz chorar,
Quem machuquei e quem curei
Tudo e todos, todos os rostos,
Todos os momentos passando em um milésimo de segundo
Minha cabeça dói, meu corpo dói, minha alma dói,
Tudo a minha volta, todo o meu mundo padece
Minha vida padece, sou consumido
Consumido e destruído dentro da chama,
Minha vida se esvai por entre meus dedos,
Minhas lembranças são reavivadas e depois apagadas e aniquiladas
Num turbilhão de vazios
Estou morto. Destruído. Consumido pela Chama.
A vida não mais me habita.
Nulo. Só. Inabitado. Vazio.
Sou resgatado por asas prateadas com cheiro de Mirra,
Envolvido em um abraço materno, quente, aliviante, restaurador
Um sopro levemente dá forma a mim, a forma que ainda permaneceu na minha mente.
Vejo uma luz novamente brilhar dentro do meu peito,
Sinto o calor do Sol novamente no que será minha pele,
Tenho olhos novamente,
Minha primeira visão é de uma mulher encoberta por um véu,
Não é permitido ver sua face nem tocá-la.
Ela pensa dentro de minha mente, diz coisas numa língua desconhecida que eu compreendo
Me faz ver o mundo de uma maneira nunca vista: De cima e por dentro.
Tudo está ligado, uma raiz à uma folha do outro lado do mundo
Tudo interligado numa grande rede única e perfeita.
Meu corpo dói novamente, minha alma arde e queima
Meus olhos são brasas.
Respiro novamente o ar pesado do mundo.
Estou vivo.
Estou desperto.
Estou aqui.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Auto Liberdade



Olho pra dentro de mim e vejo minha treva
Vasculho minha escuridão procurando por mim mesmo
Tentando me achar, me localizar
Em qual momento me perdi? em qual momento me achei?
Em qual momento estou?
Sou um poço de potencial, inteligência, cultura, mas onde aplico?
Tento me achar sozinho, me guiar, mas é tão confuso
Pois olho pra dentro de mim e vejo minha escuridão
Uma escuridão que não me deixa ver mais a frente
Desço e subo, vou de um lado a outro,
Mas parece que estou preso a mim e não vou pra frente
Como posso me libertar de mim mesmo?
Alçar vôo para longe de mim e de minhas castrações e frustrações auto-impostas
Quero me alforriar de mim
Será possível que nunca me libertarei de mim mesmo?

terça-feira, 5 de agosto de 2008

O Porquê do Sorriso



Oh, escuridão! Tola e infantil!
Me vigias por quê?
Me segues por quê?
Será que um dia cansarás?
Não vistes que a luz que me envolve é infinita em amor?
Cercada de beleza ela é,
Rodeada de vida, de risos e alegria!
Não há espaço para tristezas e amarguras!
Procuro em mim espaço para ti e chego a uma conclusão: Não há!
Segue teu rumo!
Aqui não há parada para ti!
Aporte em outro ancoradouro, onde talvez encontre terra fértil para seus frutos amargos.
Respeito-te por teu entusiasmo e perseverança,
Mas sou obrigado a dizer que perdes vosso tempo em tentar me pegar
Estou a milhas de ti!
Aprecio sua obstinação,
Mas torno a dizer que perdes tempo e energia em tentar me ludibriar.
Tú me vacinaste contra teu próprio veneno!
Aplauso suas montagens, cenas e cenários,
Mas seria redundante se compartilhasse contigo
Que minha crítica e percepção foi fortalecida por ti, contra ti.
Desista, desse simples homem, não conseguirás nada além de risos e alegria!

Comigo Mesmo




Caminho pela estrada deserta e escura de minha alma,
Passo pelas desilusões passadas,
Caminho sobre lágrimas roladas
Acima de minha cabeça risadas que ainda não dei
Clamo por amores e paixões
Por entradas e saídas
Por movimento contínuo.
Me debato contra meus próprios braços
Tentando me libertar de mim mesmo,
De minha própria prisão imposta à mim por mim.
Anseando pela liberdade imaginária de um mundo de desalegrias
Um mundo ao qual estou preso por vontade própria
Um mundo onde a beleza, cada dia mais rara, escapa por entre meus dedos
Um mundo onde o amor, cada dia mais sutil e etéreo, se esvai por fossas toráxicas que caminham ao meu lado
Clamo por ti, oh amor, puro e real
Pela beleza, pela luz!
Oh, Luz, cada dia mais fraca!
Cada dia mais bruxuleante, sufocada por mentes doentes e inférteis incapazes de criar
Por ti eu levanto bandeiras e empunho espadas
Ei de te levar cada dia mais longe
Pois por mais fraca que sejas, uma única chama de ti, aniquila a escuridão que me rodeia e tenta me acompanhar.